Um papo sobre economia: Portugal x Brasil

O texto de hoje estava “abandonado” nos rascunhos que eu e a Juliana tínhamos em conjunto para os posts aqui do blog. Ele estava esboçado e era um assunto que a gente tinha bastante vontade de compartilhar, é um desses sobre as diferenças e sutilezas que a gente só percebe no dia a dia, com a vivência. Então vamos a ele 🙂

Não é novidade alguma que Portugal e Brasil são dois países diferentes: estão em continentes diferentes, tem culturas diferentes, economia e até mesmo geografia diferente. Só que é comum acreditar que, por termos a mesma descendência, sermos ocidentais e até vivermos ambos em um sistema capitalista as diferenças vão ser sutis. Não são. Principalmente quando falamos do funcionamento do governo, economia e organização do país.

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Para começo de conversa a gente precisa lembrar que Portugal é menor do que o Estado de São Paulo (em termos de território e população) e obviamente é mais fácil administrar um país menor. É muito comum o brasileiro chegar em Portugal, achar os modelos utilizados fantásticos (e muitos são mesmo) e acreditar que a solução para o Brasil seria replicar tudo igual em terras tupiniquins. Mas por essas diferenças estruturais acreditamos que o buraco é um pouco mais embaixo.

Quando falamos de proporção também fica tudo muito diferente. O Porto é uma cidade grande para os padrões de Portugal, a segunda maior do país, mas para quem vem do Rio de Janeiro ou São Paulo o Porto é uma cidade pequena. E quando falamos de oportunidades de emprego também sempre esbarramos na questão proporção. Com frequência alguém nos pergunta: é verdade que em Portugal não tem emprego, e a nossa resposta quase sempre é: claro que existe. Só que existe menos oportunidades qualificadas do que no Brasil, aqui um jovem saí da faculdade muitas vezes sem emprego na sua área de atuação. No entanto proporcionalmente, na relação população x postos de trabalho não é isso que os dados mostram. O índice de desemprego no Brasil em março de 2019 bateu 12,7% versus 6,8% em Portugal no mesmo período. 

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Há algum tempo atrás tivemos uma longa conversa sobre o que acreditamos ser a principal diferença de como funciona a economia no país. Nem tanto na teoria ou no que é aplicado pelo atual governo, mas a percepção de um brasileiro que chega aqui. Tudo aqui é em menor escala, principalmente o consumismo. Mesmo estando dentro de um sistema de mercado Capitalista, Portugal está associado a um estado social e isso muda tudo. Além de saúde e educação socializada, o país parece ter outro ritmo em relação aos gastos, o povo é mais contido e não gasta um euro sequer sem muita racionalidade. A Renata como fotógrafa de família sentiu logo essa diferença: para além de menos clientes pela quantidade em si de pessoas ser menor, a disposição em contratar um fotógrafo aqui é bem menor também.

Além disso, assim que chegamos aqui ficamos surpresas com a quantidade de programas de lazer gratuitos que a cidade oferece. São concertos, festivais, feiras, cinema ao ar livre… tudo com entrada grátis. Uma cultura socializada é realmente muito invejável. Agora é claro que com tantos eventos grátis o dinheiro também não flui tanto quanto no Brasil. Assim como não se gasta tanto não se ganha tanto, é só olhar para os salários em Portugal que se vê que aqui se vive com pouco, mas é um pouco que rende mais nesse sistema. 

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Outra surpresa para quem chega é a quantidade de funcionários nos estabelecimentos. Sempre comentamos que no Brasil, no café da esquina você provavelmente vai encontrar uns três garçons, um caixa e um gerente. Já aqui a maioria dos cafés tem um único funcionário que é caixa e atende todas as mesas. O atendimento pode ser mais lento mas a pressa também não é a mesma. A conclusão rápida que a gente chega é essa: menos funcionários, menos emprego e embora a gente já tenha concluído que não é verdade vemos que muita gente se muda para Portugal pensando: vou chegar já fazendo pelo menos um “bico”, um trabalho na loja da esquina e se frustrando porque na prática não é tão fácil assim. Então a dica que a gente sempre dá para quem está querendo se mudar é: venha com pelo menos 1 ano de economias. 

O lado maravilhoso dessa história a gente já sabe é um país com bem menos desigualdade social. O que dá gosto de ver quando a gente chega aqui. É muito bom ver praticamente todo mundo ao seu redor com o mesmo, ou pelo menos semelhante, poder de compra que o seu. Isso aproxima as pessoas, diminui a violência e torna o país mais tranquilo. Se no Brasil a gente tem uma economia mais próxima da Americana onde “ter mais” é importante e até mesmo ostentar o que tem é legal, aqui a sensação é que ninguém quer ter mais que ninguém e isso inspira a gente. 

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4 thoughts on “Um papo sobre economia: Portugal x Brasil

  1. É bem esta realidade portuguesa. Uma menor discrepância salarial torna um país menos violento. Apesar de haver os bem ricos e os pobres, essa realidade não é tão flagrante como no Brasil. Parabéns pelo vosso blog

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  2. Ótimo artigo, na minha opinião reflete bem o que vi e senti nas últimas visitas que fiz a terrinha de Cabral em 2018 e agora em 2019, mas em contra partida percebi que os Portugueses, principalmente os da classe trabalhadora, reclamam muito que existem os mesmos privilégios políticos iguais ao Brasil e que a saúde pública piorou em termos de qualidade nos últimos anos, fora isso para nós turistas é ótimo, mas para morar tem que fazer um estudo muito minucioso.

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    1. sim, ainda axiste muito para ser melhorado. Portugal é ótimo para passear e para morar também, mas não é o paraíso como muitos estão a pensar no Brasil. Afinal, problemas há em todos os lugares, e muitas das diferenças podem ser um problemas de adapção para quem chega achando que é igual ao Brasil. Obrigada pelo comentário Rodrigo 🙂

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