Esse post vai ser grande, mas é porque faço questão de contar todos os detalhes de uma das experiências mais lindas que já tive. Linda em todos os sentidos; os cenários eram lindos, as pessoas com quem cruzei e os sentimentos que tive. Eu sempre ouvi muita gente falando sobre fazer o caminho de Santiago, a maioria das pessoas falam do esforço físico, das dores no pé e também da energia boa que sentem ao fazer o caminho. Mas não tinha a noção da intensidade dessas coisas, nem da dor nem dessa energia. Só mesmo fazendo para saber.
Para dar um panorama geral do que é o caminho e do que eu fiz, vou tentar resumir no seguinte: o caminho é tradicionalmente uma peregrinação religiosa, feita por católicos do mundo inteiro até o túmulo do apóstolo Santiago (que se encontra dentro da Catedral de Santiago de Compostela). Clique aqui para ler mais sobre a história do caminho. Mas hoje muita gente faz o caminho por outros motivos: espirituais, culturais ou simplesmente a vontade de ter uma experiência diferente. E sim, é uma viagem muito diferente das outras que já fiz.
O primeiro guia do peregrino foi publicado no século XII e este caminho se inicia na França. Hoje em dia tem milhares de caminhos que você pode fazer e não existe apenas um caminho correto, o certo é você eleger o seu caminho e segui-lo.
Desde que me mudei para o Porto via muitos peregrinos andando pela cidade e fiquei sabendo que a rota do Caminho Português se iniciava aqui. Eu que sempre tive vontade de fazer o caminho não me aguentei e quis logo me juntar à essa galera. Nada mais justo do que iniciar o caminho na cidade onde estou morando, né?
Qual caminho fazer?
Até onde eu sei, existem 3 opções de caminhos portugueses – pode ser que existam mais, mas na minha pesquisa os que eu encontrei foram: Caminho de Braga, Caminho da Costa e Caminho Central. Tem também quem inicie o Caminho Central em Lisboa, principalmente os que o fazem de bicicleta! Eu e meu marido escolhemos o Caminho da Costa porque sempre tivemos uma conexão muito forte com o mar e achamos que espiritualmente seria mais interessante e as paisagens seriam mais bonitas. Definitivamente não nos decepcionamos.
Quanto tempo dura?
Isso vai depender de você, mas como o Caminho da Costa tem aproximadamente 260km no total e a maioria dos guias recomenda fazer entre 15km e 30km por dia, a maioria das pessoas faz entre 10 e 12 dias. Fiz em 11 dias e me programei desde o início para fazer dessa forma, mas se está pensando em fazer o caminho recomendo achar um guia com o planejamento já de quilômetros por dia e ver se ele se encaixa na sua realidade.
Quando fazer?
Fiz na primavera e amei! O clima estava ótimo e o caminho muito florido! Recomendo!
Como programar meu caminho?
Neste aspecto eu ainda sou bastante old school e comprei um guia na livraria, mas sei que existem diversos aplicativos hoje em dia e vi várias pessoas no caminho com guias impressos da internet. Os aplicativos me parecem uma boa solução porque são bem completos com sugestões de albergues para ficar, lugares para comer, mapas detalhados etc. Mas o meu guia em papel também foi um bom companheiro e tirando o dia da chuva em que ele molhou um pouco ter ele sempre em mãos foi bom. Outra coisa é que ele tinha umas informações um pouco desatualizadas sobre albergues e preços, mas nada muito grave.
Eu não planejei muito o caminho até porque a maioria dos albergues de peregrinos não fazem reservas e mesmo se fosse possível eu não faria porque poderia acontecer um imprevisto e eu não chegar em determinada cidade na data planejada. O planejamento que mais me dediquei foi montar a mochila que eu ia levar. E errei em várias coisas, podia ter levado bem menos e poupado minhas costas que doíam muito todos os dias pelo peso da mochila. Pensando nisso e pensando que você pode usar esse post para planejar seu caminho fiz abaixo uma lista do que levei e comentei como eu teria feito se fosse fazer o caminho novamente hoje.
Lista do que levar no Caminho de Santiago:
- Um mochilão
- Saco de dormir – alguns albergues de peregrino não têm roupa de cama, estes sempre são bem baratos, algo como 6 euros ou até mesmo donativos (você paga quanto quiser) e não tem muito jeito, saco de dormir é mesmo volumoso e pesado. Mas todas as cidades têm mais de uma opção de albergue e uma alternativa é não levar saco de dormir e só ficar em albergues que tem roupa de cama. Eles são um pouco mais caros, mas não muito! O albergue mais caro que ficamos custou 15 euros cada, e mesmo assim era porque esse oferecia quarto privativo.
- Toalha – A maioria dos albergues não tem toalha então não tem jeito. Tem que levar, mas eu queria ter levado uma mais leve.
- 2 tênis – Um foi mesmo no pé mas optei por levar dois tênis porque um era mais confortável, mas por ser de corrida não era muito bom para as trilhas, e levei uma botinha de trilha que protegia melhor o calcanhar e tinha a sola mais antiderrapante mas apertava mais o meu pé. Se eu tivesse um tênis macio específico para trilha teria levado apenas ele. Mas não era o caso. A parte boa de ter levado dois é que teve um dia que rolou um dilúvio e ter um tênis seco para o dia seguinte foi muito bom!
- 1 chinelo – Essencial! Quando termina a caminhada tudo que você quer é deixar seus pés respirarem.
- 10 blusas – Não tem porque! A maioria dos albergues tem lavandaria! Alias todos que eu fiquei tinham tanque e alguns tinham até máquina de lavar e secar. Devia ter levado no máximo 5 blusas e ficar lavando. Pelo mesmo motivo também teria reduzido a quantidade de roupa íntima.
- 2 calças e uma bermuda
- Meias
- 1 parka/ capa de chuva (para cortar o vento e proteger da chuva)
- 1 casaco leve
- Boné e óculos escuros
- Garrafa de água
- Kit de higiene pessoal (não esquece do protetor solar, sabonete e um rolo de papel higiênico!)
- Kit de primeiros socorros – aqui vai uma dica que descobri durante a viagem e que me salvou. Se você sofre com bolhas nos pés – eu tive umas 8 durante o caminho – compre em uma farmácia aqui na Europa uma coisa chamada Compeed. Ele não cura a bolha mas protege e deixa a caminhada mais confortável já que é tipo um band-aid mais acolchoado. Tem também Compeed para calos. Outra coisa que levamos e foi essencial foi um relaxante muscular).
- Cajado ou bastão – Todo mundo me falava que era essencial e eu não entendia bem o porquê. Mas realmente ajuda bastante, principalmente na parte das trilhas! Você divide melhor o peso e dá mais estabilidade.
- Documentos e passaporte do peregrino – O passaporte do peregrino é um documento que eu comprei na Sé do Porto – local de partida do Caminho da Costa – e é nele que você pega os carimbos nos albergues, igrejas e até alguns restaurante e cafés que passa pelo caminho para pegar a sua Compostela no final (que é o certificado de que você concluiu o caminho). O passaporte também é importante para te dar acesso aos albergues de peregrino.
Coisas que não levei mas fizeram falta:
- Tampão de ouvido – Alguns albergues têm mais de 20 camas por quarto. Como dormir com a sinfonia de roncos? Eu li em algum blog uma pessoa recomendando levar, mas não achei para comprar! Se você encontrar ou já tiver um, leve! Vale a pena!
- Grampo para roupa – A maioria dos albergues tem varal para pendurar sua roupa, mas não tem grampos para pendurar. Minhas roupas viviam caindo do varal quando ventava. Os peregrinos mais experientes sempre tinham pelo menos um par!
Legal! E é uma viagem cara?
Olha, tem tudo para não ser, Portugal e Espanha não são países caros, você vai se hospedar em albergues e pode se alimentar de forma bem barata comprando no mercado e fazendo comida no albergue. Mas pode também querer ficar em hotéis mais caros e comer em restaurante refinados. Depende de você. Eu tentei fazer opções econômicas, mas em algumas cidades me dei pequenos luxos como ficar em quartos privativos nos albergues e experimentar dois bons restaurantes da culinária galega – afinal Santiago fica na Galícia – que descobri ser excelente!
Vou conseguir caminhar uma média de 20 kms por dia?
A princípio qualquer um consegue, mas é altamente recomendável ter algum preparo físico principalmente para evitar lesões no caminho. É interessante ver que no caminho tem muita gente acima dos 50 anos que fazem o caminho super bem! E pessoas mais jovens cheias de lesões. Suspeito que é porque as pessoas mais velhas estão mais acostumadas a praticar caminhada. Porque é algo bem específico andar durante 12 dias seguidos cerca de 20kms carregando uma mochila pesada nas costas. Confesso que não me preparei especificamente para isso e dei sorte de não ter me lesionado. Mas se eu for fazer novamente um dia faria antes um preparo com alguns dias consecutivos de caminhada carregando uma mochila. Se está na dúvida se vai conseguir fazer bem, tenta andar por 20kms por 3 dias consecutivos e vê como se sente. Se perceber que seus pés, tornozelos e pernas estão aguentando bem, é um bom sinal!
Será que eu vou me perder?
No geral o caminho é muito bem sinalizado com suas famosas setas amarelas e conchas de Vieira. A única cidade em que tive dificuldade de achar as setas foi em Vigo porque é uma cidade muito grande, com muita informação. Mas as pessoas foram muito solícitas e ajudaram muito! Em nenhum dia foi necessário GPS.
Sobre minha experiência, as pessoas, os lugares e descobertas
Não sei descrever exatamente porque gostei tanto da experiência, mas posso resumir no seguinte: foram 11 dias com paisagens lindas, contato com a natureza, convivência com pessoas com boa energia, animadas e com muito senso de colaboração, boa gastronomia, muita reflexão, muito cansaço, mas também muita superação.
As pessoas que conheci realmente fizeram toda a diferença. É engraçado que as pessoas, no geral, adoram os peregrinos. Nas cidades onde passamos as pessoas gritavam: “Buen Camino”! Acho que escutei bem mais de 100 vezes não só de outros peregrinos, mas de moradores das cidades onde eu passava. Nas cidades menores então, as pessoas adoram conversar, saber de onde você é e se alguém te via perdido logo falavam: “Ei, o caminho é para lá!” Sem contar as vezes que me pegaram pelo braço e me levaram até o local que procurava. Entre os peregrinos então é normal você criar uma irmandade muito forte já que você continua encontrando mais ou menos as mesmas pessoas nos dias que seguem e os albergues são lugares propícios para muita troca. Conversei com muita gente, aprendi muitas coisas com pessoas de outras culturas, idades, crenças e mesmo aqueles com quem não conseguia me comunicar, por não falarmos línguas em comum, troquei muitos sorrisos, acenos e aquele olhar de “tamo junto” que é universal.
Por fim, algumas dicas extras:
1. Pensíon La Moderna em Caldas de Reis
Depois de vários dias sem conseguir dormir direito por causa dos roncos resolvi dormir bem e fiquei nessa hospedaria com quartos privativos. Eles aceitam reserva então um dia antes liguei para lá e encontrei quartos muito simples mas confortáveis e limpos. Bônus: eles deixam bocadilhos de tortilla (sanduíche com tortilla espanhola dentro) na porta do quarto à noite ;).
Pensíon La Moderna
Fica ao lado da igreja de Santo Tomas.
Quartos com 2 camas de solteiro: 15 euros cada.
Telefone: (0034) 986 540 312 – falar com José
2. Albergue Seminário Menor La Asunción
São 200 camas para peregrinos, um prédio lindo e com uma vista incrível para a cidade de Santiago de Compostela. Foi o albergue de peregrino com mais estrutura que vi, tudo muito organizado e dentro do albergue tinha até supermercado e caixas eletrônicos! Também tinha opções de quartos privativos.
Albergue Seminário Menor La Asunción
Avenida Quiroga Palacios
Telefone: (0034) 981 568 521
E-mail: santiago@alberguesdelcamino.com
3. Restaurante The Othilio Bar em Vigo:
Simplesmente o melhor da culinária galega!
The Othilio Bar
Rua Luis Taboada, n9 – Vigo
4. Furancho
Essa foi uma descoberta muito legal! Pelas estradas e zonas rurais da Galícia existe um negócio muito legal chamado Furancho! Nada mais é do que uma casa que abre suas portas e oferece comidas e/ou bebidas preparadas com ingredientes daquela fazenda/ casa. Um exemplo foi uma casa que paramos que vendia vinhos e tapas feitos com ingredientes próprios. Eles fizeram tipo um restaurante na garagem e ofereciam os produtos a bons preços. Delícia!
Está a fim de acompanhar nossas próximas aventuras? Eu mostrei um pouco do caminho, quase que diariamente, pelo stories do nosso Instagram e semana que vem mostrarei um pouco da minha viagem para a Madeira! Além disso, no nosso Facebook você fica sabendo dos posts e do que está rolando na cidade! Acompanha a gente por lá.
Bom saber noticias suas 😘 Adorei suas dicas , com certeza irei fazer o caminho ! Sucesso com o blog
está muito bacana ! Amei
GostarGostar
Querida Margarete! Que bom que gostou e que tem vontade de fazer, recomendo muito, vai adorar! Beijo grande!!!
GostarGostar
Esta muito bom o post do Caminho de Santiago . otimas dicas e estimulante a realizar. Prazer ve-los por aqui. bjs
Andrea Orlandi e Juan
GostarGostar
Andrea! Que bom que gostou! Nós também adoramos encontrar vocês, foi mais uma das gratas surpresas dessa viagem 🙂
GostarGostar
Ameeei esse post, Ju! Que experiência maravilhosa! Quero poder fazer algum dia!
GostarGostar
Que bom que gostou! Vale super a pena mesmo! Vc e Johnny iriam gostar!! 🙂
GostarGostar
http://www.caminhoportuguesdacosta.pt
GostarGostar
Olá. Muito bom o post! Estou muito interessado em fazer o caminho Português ainda esse ano. Porém não decidi qual ainda. Tenho sérios problemas com sono (estou indo justamente para tentar manter a calma em lugares tranquilos). Você sabe me informar se os Hostais/Albergues possuem opções de quartos privativos? Obrigado!
GostarGostar
Olá Kaio, os albergues oficiais de perigrino não costumam ter quartos privativos mas em todas as cidades que parei tinha mais de uma opção de albergue e até hotéis em que havia essa opção. É bom você pesquisar o que tem em casa cidade e no seu caso já tentar fazer uma reserva 😉
GostarGostar